Américo

A segunda frase do “diário” de férias que, agora, inicio é verdadeiramente polémica:
- Os meus filhos são os melhores filhos do mundo!
Existem inúmeras razões que sustentam esta teoria mas as férias deste ano são, mais uma vez, a prova do que afirmei.
Dez dias em terras estrangeiras sem uma queixa (ok, ok, as perguntas sobre a existência metafísica do lanchinho da manhã são perturbadoras sobretudo após a ingestão de dois quilos trezentos e vinte gramas de pequeno-almoço mas não contam para a estatística) andando o equivalente ao que o herói de Cervantes cavalgou, sofrendo as agruras de algumas filas intermináveis ou suando com a canícula parisiense provam-me que eu tenho razão: - Eles são os melhores filhos do mundo!
À guiza de diário e tentando, injustamente, concorrer com os diários deles cá vão alguns apanhados e algumas memórias dos dez dias brilhantes que passámos os três (este número é importante para registar que o grupo era composto por mim, o pai e pela Inês, a filha e o Gonçalo, o filho).


Dias 1, 2 e 3 – 3 a 5 de Agosto
A primeira grande prova destas férias seria testar se o táxi que ontem apalavrei cumpriria com o seu desígnio de nos transportar, a horas, ao aeroporto. Pelo ar combalido que o condutor fez quando lhe falei em 7 da manhã fiquei com o medo a percorrer-me o corpo. Isso, aliado ao jornal “Record” em que ele tomou nota da morada e hora não me inspira confiança. Se ainda fosse na “Bola”…
No entanto, às 7 horas e um minuto, cá estava. Primeira vitória. Viagem até ao aeroporto sem problemas embora o moço taxista não fosse um poço de simpatia (para isso aguardar até ao capítulo sobre a viagem de regresso em que os 32 modos diferentes de fazer a barba ganharam uma importância só comparável ao número de operações plásticas que o Fernando Pereira já fez).
A viagem na Easyjet para Paris – Charles de Gaulle decorreu, também, sem incidentes sendo de realçar apenas o facto de, a bordo, tudo ser pago. Mas para uma viagem de duas horas nada mais é preciso. A estratégia é, passado o controle de segurança comprar um sumo ou uma garrafa de água e levar umas bolachinhas ou uma sandocha e enganar o estômago durante a viagem.
Chegados à Europa (repararam na provocação?) fomos conduzidos de autocarro até ao autocarro ou VEA que nos levaria ao hotel da Disney. As tatuagens do motorista do segundo autocarro não eram propriamente a cara do Mickey ou da Minnie a não ser que eles tivessem morrido há muito tempo e já se lhes visse a respectiva ossatura mas possuindo uma pronúncia de francês lá muito do sul lá nos levou ao nosso hotel passando por todos os outros que pertencem ou estão associados ao parque.
O hotel Cheyenne foi uma boa aposta uma vez que os miúdos adoraram aquele ar de western que se vivia nas ruas e na arquitectura e embora o quarto, no pavilhão Jeronimo, não fosse semelhante aos quartos do Georges V, em Paris, o beliche e a cama eram mais que respeitáveis para quem estava disposto a gastar a pele dos pés até à tela subcutânea nos dois dias seguintes.
Após as formalidades de check-in e o depósito de mercadorias no quarto avançámos, de autocarro, para a Disney.
Uma vez que almoço era um substantivo que ainda não fazia parte do nosso vocabulário francês avançamos heroicamente pelo Disney Village até um restaurante PatDonald (piadola que o Gonçalo face à fome que sentia demorou a entender). “Alambazámo-nos” com uns… … … hamburguers (?) e meia litrada de água suja do imperialismo e seguimos já recompostos (?) para o Walt Disney Studios deixando a Disney para depois das 18h00, hora a que encerrava o primeiro parque.
A descrição do que fizemos desde esse momento até apanharmos o RER para Paris daqui a dois dias fica registado, minuciosamente, nos mapas seguintes:













De significativo, apenas algumas ideias soltas: - a Inês fez o seu primeiro looping (ou segundo a versão dela os primeiros 31 loopings) no “Rock ‘n’ Roller Coaster starring Aerosmith; - a água das torneiras é excelente pelo que levando uma garrafa e reabastecendo nas casas de banho fez-nos poupar umas centenas de euros uma vez que cada garrafa de água custa 2 euros e meio; - o café custa o mesmo que uma garrafa de água mas, aí, que fazer? ; - aquela coisa azul com gelo chamada granizado é D E T E S T Á V E L ! ; - ficar nos hotéis da Disney tem a vantagem de se poder entrar às oito da manhã no parque enquanto os mortais só podem entrar às dez permitindo “despachar” algumas das atracções mais concorridas sem grande espera; - em Agosto existem 3498 abelhas por metro quadrado graças, provavelmente, às idiotas das flores que se encontram totalmente floridas criando um terrível espectáculo de cor e som (cor das flores e som da Inês aos gritos «Uma abelha, hihihihihihi, uma abelha!!!); - o Disney Live Stage não é indicado para crianças com mais de 3 meses e se os pais insistirem em ir ver o espectáculo (desculpa Gonçalo) as crianças fora dessa faixa etária devem revoltar-se e fazer como a Maria da Fonte; - os pais nunca têm medo de andar nas atracções. Poderão ter algum respeito e, no meu caso, enjoar muito; - Uma hora e vinte de espera para andar 30 segundos na “Autopia” é uma eternidade principalmente se a temperatura estiver nos 38 graus; - A JANELA É PARA QUEM TIRA FOTOGRAFIAS!!! (“private joke”); - “Desculpa”, diz-se “pardon” e não “pérdon” ou “pirdon” ou “pardoné”; - os “Fastpass”foram a melhor invenção depois de um mesopotâmio ter dito: «Olha, e se a malta cortasse aquele tronco e fizesse uma…………………… roda?»; - a comida não é tão má como se pode pensar. 35 euros por três menus com bebida, salada, pizza ou hambúrguer, pão de alho (hummmmmm…) e sobremesa, não é mau de todo.
E assim chegámos ao final da primeira aventura. Paris aguarda-nos.

Dia 3 – 5 de Agosto
Uma das grandes conclusões a tirar destas férias é que em qualquer país europeu o sistema de transportes funciona. E mais, as pessoas que trabalham no atendimento, mesmo sendo francesas, entendem-nos e estão ali, pasme-se, para nos ajudar. Ouviste, ó idiota que estavas a trabalhar na estação do Cais do Sodré, às 15h00 do dia 21 de Março do corrente?
RER até Nation, mudança para o metro e ida até à Place de Italie. Hotel Holliday Inn. Ok, ok, o quarto não era igual ao do Georges V (onde é que eu já ouvi isto) nem ao do Cheyenne, na Disney mas cumpria o desígnio. O chuveiro estava roto e o lavatório entupido mas depois da minha prima Nazaré ter dito à senhora da recepção «Ah bon, rondtonju cela fini lavat chichu bonbon pitu» tudo ficou na mesma. Surpreendidos? Eu também. A minha prima vive em Paris desde os três meses e eu tenho a certeza que ela explicou tudo. Mas a azáfama era muita e o senhor (?) não deve ter tido tempo para ir compor a coisa. Seria português? Como castigo, no dia em que viemos embora, rebentou um cano no primeiro andar e o atrium do hotel transformou-se numa piscina semelhante à que a australiana Annette Kellermen, em 1907, usou para dar início a esse belo desporto a que se chama natação sincronizada. Toma!
Deste primeiro dia em Paris ressalta a fantástica refeição que fizemos no Butte-aux-Cailles, uma pequena colina ao sul de Paris, num pequeno restaurante e que se prova visualmente com a fotografia anexa.













Dia 4 – 6 de Agosto
No Google Earth, em linha recta, sem subidas: 10,24 quilómetros. Factos do dia: - Em Paris, à semelhança do Miratejo, também há pessoas (?) que acham que todos os passageiros de uma carruagem de metro querem ouvir o som roufenho que sai do seu telemóvel tonitroando-nos o pavilhão auricular com sons tribais; - 45 minutos de fila e 35 euros para subirmos ao último piso da Torre Eiffel num dia absolutamente majestoso de sol, não é caro. Principalmente se tiverem uma ventoinha aquosa a bombear vapor de água para os encalorados visitantes; - Como é que se pedem duas garrafas de água em Paris?: «Two bottles of Evian, please.» Ganda Gonçalo!; - Para comprar uns presentitos para levar para o burgo caseiro nada melhor do que entrar em todas as lojas de marcas de automóveis existentes nos Champs Élysées; - Qual é a solução quando está um calor semelhante ao que Baghdadi experimentou ao abrir a janela do seu quarto em Al-`Aziziyah a 13 de Setembro de 1922 e o termómetro marcava 57.8 ºC? Comer um gelado fresquinho. Ou um cachorro-quente acabadinho de sair do forninho. Bom; - O Quartier Latin continua a ser um bairro inacreditável e se um dia eu tiver que ir viver para Paris é para lá que eu quero ir; - Frase de arquitecta: «Uma biblioteca deste tamanho, toda em vidro? Eu não gosto do Miterrand!» Mon Dieu, qu’il sont fous ses français!

Dia 5 – 7 de Agosto
Depois de mais um pequeno-almoço memorável, por parte dos dois devoradores, partimos para a zona mais recente de Paris e de que a “nossa” arquitecta também não gosta nada – La Defense. O Arco do Triunfo, visto daqui, não deixa de ser uma visão curiosa. Acho que os miúdos gostaram da modernidade da arquitectura e do Miró que já tínhamos visto em Barcelona. A Inês, no entanto, deve ter gostado mais ainda do pai lhe ter comprado uns brincos. Após anos de pedidos para furar as orelhas, finalmente, parece que é desta. Como dizia Públio Sírio: «A juventude deve ser domada com a razão, não com a força!». Espero que ela saiba, sempre, que tudo o que faço é com a melhor das intenções e para o bem-estar dela (já se impunha um breve momento de seriedade).
Da Defense para Beaubourg e o Pompidou. O Centro continua fantástico apesar de se ter que pagar três euros para subir as escadas rolantes e chegar ao topo. A visão sobre os telhados de Paris é fantástica e ficámos todos com enorme vontade de rever o Ratatoille.
Almoçámos uns cachorros miseráveis (depende das opiniões, claro) na praça Stravinsky junto às esculturas de Jean Tinguely e Niki de Saint Phalle. A água estava a atirar um bocadinho para o verdete e como o único verde bom é o da relva que é para pisar dedicámo-nos a observar uns maduros que tentavam fazer um pouco de hip-hop em troca de umas moeditas. Achámos que não eram maus de todo (excepto a moça que fazia um lindo efeito de papel higiénico) mas quando chegarmos a Londres vamos ver o que é hip-hop do bom. Aguardem.
Pela tarde, e para treinar para os 306 degraus que nos haverão de conduzir ao Sacré-Coeur, deambulámos pelo bairro Le Marais e só lamento não ter comprado para a Inês, e demais elementos do grupo, um gelado caseiro que parecia uma verdadeira obra de arte. Fica a promessa de lá voltar. Comprometi-me a culmatar esta falha e, assim, larguei 7 euros e meio por um gelado, para a Inês, na rua de acesso à escadaria ao Sacré-Coeur. A subida correu bem e deliciámo-nos, no topo, com um artista que dava toques na bola num local um poucochinho complicado.


















Continuámos para Montmartre e continua a ser delicioso caminhar naquelas ruas e observar os artistas-melgas a tentar sacar uns cobres aos turistas. Existem alguns com bastante qualidade mas a maioria tem, apenas, uma boa técnica. Foi engraçado encontrar o asiático que, penso eu, me fez um perfil recortado em 1981. Disse-me que ali está há 45 anos e como não havia mais nenhum a fazer o mesmo tipo de trabalho, a bem do meu imaginário, pedi-lhe que fizesse os perfis dos meus miúdos. Não sei se ainda lá estará quando os meus filhos levarem os meus netos a Paris mas pelo menos nós os três estamos resguardados na memória da cartolina preta.



















O final do dia foi celebrado com um belíssimo jantar nos Champs Elysées, no Léon de Bruxelle. O Gonçalo acertou na mouche e, pedindo um dos pratos a menos de 10 euros, comeu penne com moules e, para seu grande gáudio, encheu o recipiente dele com mais cascas do que o meu e da Inês. Porquê a alegria? Porque significou que comeu mais do que nós. Oh, meu Deus!

















Dia 6 – 8 de Agosto
A partida para Londres estava rodeada de alguma expectativa uma vez que andar de TGV, a 300 quilómetros por hora, e atravessar a Mancha não são coisas que se façam todas as décadas (pelo menos na última não o tínhamos feito). As expectativas eram elevadas. O resultado foi assim um bocado………………….… fnhãn. Ok, 300 quilómetros por hora. E?... Nem se dá por eles. A única emoção residiu mesmo em tentar perceber quando é que o raio da miúda, que ia ao pé de nós, se calaria. Das duas uma: ou aquilo era um ensaio para um anúncio das pilhas Duracell ou foi uma recriação do ambiente que se viveu em Londres a 7 de Setembro de 1940 quando o alemão do bigodinho disse: «Não gosto nada de pooridge».
Gosto de Londres. Para já as miúdas são todas louras, giras, de olhos claros, altas, bem vestidas, elegantes e simpáticas (a simpatia talvez seja redundante mas não vem mal ao mundo por sonhar). Depois, as miúdas são todas louras, giras, de olhos claros, altas, bem vestidas, elegantes e simpáticas. Ah, isto já tinha dito. Pois. … … … …
Sobre Londres…
(a vida de um celibatário não é nada fácil)
Sobre Londres: - Não há cães vadios; - Não há gatos vadios; - Não há vadios; - Não há lixo nas ruas; - O sistema de transportes funciona optimamente. Será estranho um bilhete de ida e volta para o metro custar tanto (5 libras e 60) como um bilhete para andar todo dia no metro e autocarros? Como a Inês perdeu um ano durante estas férias (passou de 11 para 10 anos) não precisou de bilhete e o Gonçalo só pagou 1 libra. Parece-me muito bem. Não sei se quando pagar a minha promessa e voltar a Londres quando eles fizerem 18 anos ainda algum passará por 10, mas agora ainda deu; - Na maior parte dos museus não se paga entrada. Isto para mim é absolutamente inacreditável. Ah, e os museus estão todos abertos, inclusive, ao fim de semana. Ouviste, ó José António Pinto Ribeiro?
Para aproveitar a tarde e depois do check-in feito no Royal National num dos 1630 quartos fomos até ao British Museum. Antes disso, primeiro encontro com um ilustre membro da família Sciuridae ou vulgar esquilo-comedor-de-tudo-o-que-seja-bolachinha. Os miúdos deliraram e o bicharoco até era bem simpático. Quanto ao museu, digamos que se 1630 quartos é muito quarto, 21908 múmias é bem capaz de ser muita múmia. A verdade é que isto toma proporções dantescas quando a minha filha decide testar a bateria da máquina fotográfica registando tudo o que é múmia, calhau ou vitrina.
Mais um gelado, um cachorro-quente, uma garrafa de água, um passeio a pé e está passado o primeiro dia londrino.

Dia 7 – 9 de Agosto
Uma das marcações que levávamos era a do Madame Tussauds e do London Eye. Como levávamos a marcação feita na internet foi bom entrarmos pela entrada VIP do museu e não ficarmos na interminável fila que o contornava. O que há para dizer sobre um museu de cera que ainda não tenha sido dito? Não dá para tirar fotografias com flash ou então a bonecada fica com o ar com que Napoleão veria os Abba interpretar a canção com que venceram o Eurofestival de 1974. Meio aparvalhado!
Após duas horas de estreita convivência (estreita demais uma vez que o número de pessoas por metro quadrado suplantava o dos habitantes do Mónaco) rumámos para a margem direita do Tamisa onde se situa o London Eye. Passámos pelo Big Ben o que implica sempre algumas fotografias e debaixo de um calor tórrido lá demos a voltinha da praxe não sem antes termos visto um engraçadíssimo filme em 4D sobre o local.
Como o estômago já se aprestava para reclamar e numa tentativa de cobrir o máximo de cozinhas do mundo nestes dez dias, optámos por uma fusão de cozinhas norte-americana e belga. Fomos ao McDonalds e comemos, a acompanhar, batatas fritas sentados no relvado em frente à roda gigante. Para a digestão, vimos o tal espectáculo de hip-hop que cilindrou os moços de Paris (lembram-se?). Estes eram absolutamente geniais e até eu, com o meu físico Danone, fiquei com o pezinho a puxar para o mortal e a pirueta.
Mais sete quilómetros e meio de passeio e depois de jantar, em espaço tailandês, foi tempo de limpar as espingardas e apontar baterias para o prato forte de amanhã (na verdadeira acepção da palavra).
PS do dia: O teddy bear da Inês desapareceu. Fomos à chefe das camareiras e ficámos de ser contactados caso seja encontrado.

Dia 8 – 10 de Agosto
Quando o meu filho dizia quando criança de tenra idade que queria ser cozinheiro quando fosse grande eu preocupava-me e dizia sabiamente: «É pá, esta cena do puto só querer mexer em tachos e panelas ainda vai dar mau resultado!». Ao ver, na Sic Mulher (muito macho!), os programas do Jamie Oliver, pensei: «Espero bem que ele vá para “chef” que isto é um grande vidão! Principalmente gostando, eu, tanto de comer.» E a que propósito é que isto vem na minha narração? É que o prato forte deste dia (lá está) foi o almoço no Fifteen, restaurante do famoso cozinheiro.
Começámos bem o dia e fomos à Tate Modern. Gostámos imenso. E depois fomos almoçar. Ok. Está despachado.
Agora, o Fifteen. Chegámos um pouco antes da hora marcada (14h15) e fomos convidados a beber qualquer coisa no bar. Sumos de laranja e um copo de vinho tinto cumpriram a função, Sobre o tinto, que mais à frente havia de ter como companhia outro copito, copiei da internet o seguinte: «Made from Montepulciano grapes from Italy’s Abruzzo region. It’s spicy and chocolatey on the nose with a robust, slightly cherryish charter on the palate. 12,5% alcohol.» Elucidados? Como diz um amigo: - Tinto!
O facto da cozinha ser aberta para o espaço do bar permitiu-nos ver um pouco do modo como se trabalha naquele espaço. Uma moça loura, gira, de olhos claros, alta, bem vestida, elegante e simpática (onde é que eu já li isto?) conduziu-nos à nossa mesa e depois de nos explicar os pratos principais esvoaçou para outras paragens. Diabo!
A comida é verdadeiramente genial e vale bem o preço que se paga no final. Eu admoestei-me com umas barrigas de porco geniais. A Inês comeu galinha-da-índia e o Gonçalo uma “rib-eye” (deixo o original por ignorar a tradução). Qualquer um dos pratos era incrível provocando uma orgia de sabores a nível do palato. As sobremesas estão, para mim, numa escala ligeiramente inferior mas talvez seja pelo facto dos pratos serem tão bons. Para a Inês, um bolo de cenoura acompanhado por laranja, o Gonçalo comeu um “brownie” com baunilha e cerejas e eu “limpei” um folhado com frutos silvestres e mascarpone.




Depois do brilhante almoço fomos até ao Museu de História Natural mas cometemos a imprudência de ir ver os dinossauros. Pelo tempo que demorámos a percorrer 20 metros, suspeito que alguns dos sáurios em exposição foram visitantes incautos apanhados pela enxurrada de turistas e que já não conseguiram escapar.
Depois de ver o Dodo, rumámos para outro local representativo de especímenes estranhíssimos: o Harrods. Fiquei siderado com a quantidade de árabes que passeiam arrastando sacos, saquinhos, sacolas e demais contentores repletos de compras. Será devido ao poder económico? Hummmm….. Talvez. A beleza daquelas mulheres deixa qualquer um boquiaberto. Tenho a certeza que houve uma que olhou para mim mais de 2 segundos o que me fez imaginar ser um Lawrence cavalgando pelas dunas do deserto em direcção ao pôr-do-sol cantando: «I’m a poor lonesome cowboy.» Eu sei, estou a imaginar coisas. Ó vida de solidão, a quanto obrigas!...
Quando saímos, chovia. Cá fora o conjunto de Rolls Royce e limusinas emprestava uma certa paleta de cores à chuva. Em tons de cinzento, apanhámos o metro e fomos para o nosso igualmente cinzento hotel, jantar umas cinzentas sandes, no nosso cinzento quarto.
E assim acabou o dia. Insignificante. Depois do almoço.
PS do dia: O teddy bear da Inês continua desaparecido. Urso, se me estás a ouvir, volta. Estás perdoado.

Dia 9 – 11 de Agosto
Dia reservado às compras. Começámos pela Hamleys e descemos Regent Street até Picadilly. Deambulámos pelo Soho e por Chinatown. Almoçámos num estupendo restaurante chinês e entrámos em tudo o que era chafarica que vendesse coisas mais ou menos originais. De salientar os óculos com bigode da Inês, os cigarros falsos do Gonçalo e os óvnis com comando à distância.
Os miúdos adoraram andar pelo Soho e ver tantas lojas, giríssimas, que diziam nas fachadas “Sex Shop”. Quando por aqui andei na Páscoa, sozinho, não reparei em nada disto.
Terminámos o dia a jantar num “belíssimo” restaurante vazio quando podíamos ter acrescentado comida grega à nossa lista de comidas do mundo. «Mas, não, que aquele era muito bom, porque já lá tínhamos almoçado no primeiro dia, e porque comida grega e não sei quê e não sei que mais. Ok, ok! Eu vou comer à espelunca (não era assim tão mau)».
Depois de jantar passámos à pior parte das férias: fazer as malas para o regresso de amanhã. E não foi só mau pelo facto de partirmos. Até porque eu disse à Inês, há uns dias atrás, que tinha visto num filme, há uns anos, alguém que dizia que só fazia sentido partir para um qualquer sítio se depois tivéssemos para onde regressar. Ela disse que a frase a sensibilizou mas acho que podia ser a fome a falar.
O que também foi terrível na composição das malas foi acrescentar, ao que tínhamos trazido, 21 carrinhos, uma espadinha, óvnis, 54 mapas da Disney, vários porta-chaves, livros, dvd’s e blu-rays, lápis e canetas, borrachas, bonecas gorduchas nadadoras e outros estranhos objectos. É certo que a ausência do teddy bear proporciona um pouco de espaço disponível… Ah, não é verdade, porque a Inês traz um novo boneco, maior que o urso e com os olhos esbugalhados.
Outro problema foi a roupa suja. Como já se acumula desde dia 3, há um certo cheiro a queijaria de Azeitão espalhado no quarto e que vai ser encerrado numa mala. Acautelem-se os favorecidos por presentes que, estes, viajam em bagagem diferente.

Dia 10 – 12 de Agosto
Antes de dizer, definitivamente, adeus a Londres ainda fomos, de manhã, até Convent Garden para uma última visita. Assistimos a mais um espectáculo de rua (o centésimo décimo terceiro, pelas minhas contas) e visitámos o mercado. Mais umas comprinhas e regresso ao hotel para recolher as bagagens e partir em direcção ao comboio que nos havia de transportar até ao aeroporto de Luton. A viagem decorreu sem incidentes até o Gonçalo me perguntar, já no aeroporto: «Eu, agora, não tenho fome, mas se comer uma dessas sandes, ainda almoçamos a seguir?» Aí, não houve pai que aguentasse. Dirigi-me, heroicamente, até ao Burger King que lá existe e avencei um “hamburgerzasso” para mim e uns pedaços de frango (?) para os catraios.
Já recompostos da emoção, deambulámos pelas lojas do freeshop até à hora do nosso autocarro da Easyjet chegar, carregado de passageiros, e, logo depois de os despejar, partir em direcção à capital do Quinto Império.
Resta falar, como prometido, do taxista que nos trouxe a terras da Costa de Caparica. Ou o homem era um monge de Cartuxa que havia terminado o seu voto de silêncio de 27 anos ou então era verdadeiramente simpático o que num taxista de aeroporto… A conversa rondou as férias, a condução, as diferentes formas de fazer a barba (ah, cá está!), o serviço militar obrigatório e outros interessantes temas que fizeram, quase, cair os miúdos nos braços de Hipnos, deus do sono.
A chegada a casa foi pontuada por muita emoção por parte da avó e dos netos e, posso dizê-lo, do filho também.
Os meus filhos são os melhores filhos do mundo.

17 de Agosto
Recebi uma encomenda de Londres que continha, nada mais, nada menos, que o teddy bear da Inês.
Tudo está bem quando acaba bem.